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domingo, 14 de fevereiro de 2010

A ERA DOS IMPERATIVOS E A REGULAÇÃO DO PRAZER

Independente dos múltiplos significados e origens da festa de carnaval - seja do culto a Isis, passando pelas bacantes e Dionísio às comemorações demarcadas pelo calendário cristão que cumpre a função de limitar o excesso transgressor - é interessante pensar sobre o lugar e o tempo destinado ao prazer.
O sentido do prazer assume significações distintas no tempo e no espaço e operam deslocamentos significantes a partir do lugar e função na cultura. Pensar no prazer nos faz quase que automaticamente, pensar no sexual, no erótico e no fluxo do prazer e do gozo específico da excitação sexual. Mas não tiramos prazer e gozo só da relação sexual genitalizada.
Aquilo que antes era transgressor e até mesmo subversivo pode receber as vestes da norma. O imperativo, seja ele qual for, obriga o sujeito a se alienar no comando de outra instância reguladora para além de sua singularidade e possibilidade de escolher. Sim! É isso mesmo! Regulação do prazer, do gozo e do sentido dado a priori sem nenhuma elaboração como efeito de uma marca subjetiva. O imperativo goze! Transforma-se em obrigação, em signo de aceitação. Alegre-se! Signo do sucesso e da adaptação e até mesmo de saúde.
Se consultarmos os antropólogos eles nos dirão que em toda cultura e sociedade há o tempo da festa e da comemoração cumprindo uma função simbólica específica no campo ritual. Aqui abro um parêntese para indicar o blog http://gpeculturais.blogspot.com/ que apresenta algumas reflexões interessantes sobre o carnaval frugal. Contradição que já aponta ao cerne do que na atualidade faz operar a cultura.
Contudo, há um limite para a regulação externa. Há uma dimensão subjetiva que dialoga com a cultura e esse dialogo só pode fazer funcionar o investimento psíquico na construção de sentido se houver a participação do sujeito no quantum de investimento e de quais significantes farão parte de sua experiência. O imperativo para ser obedecido captura o investimento libidinal e demarca o prazer. Só investimos no que é prazeroso, mas também tiramos prazer de responder aos imperativos para receber em troca amor e reconhecimento. Assim, dependendo da submissão ao imperativo o sujeito pode sim erotizar o sofrimento.
Quais marcas deixar e quais marcas permitir ser inscritas em nós depende de um processo de identificação, de inscrições dialogadas. Diálogo travado com traços que nos fazem singulares e que seu itinerário é construído numa relação entre o sujeito dividido, o desejo e o objeto causa do desejo – objeto que possui um traço, uma marca, a chave do encanto – o que chamamos de fantasia.
Alguém muito especial perguntou: “Com que fantasia eu vou ao carnaval que você me convidou?” É uma questão interessante na era dos imperativos e da regulação do prazer. Qual fantasia assumir? Quem vai gozar? Subverter é um bom caminho...

Um comentário:

Alex F Correa disse...

Adriana, vamos escrever um artigo que entrelaça leituras sobre o Barroco, a Festa, o Prazer e a Cultura? O 'crisol' dos olhares dos Estudos Culurais e da Psicanálise poderão ser bem fecundos, não achas? Bjs.