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sábado, 31 de janeiro de 2009

LANÇAMENTO DO LIVRO ELETRÔNICO: PSICANÁLISE E SAÚDE MENTAL

APRESENTAÇÃO

Estamos todos em uma sala ampla e escura. O reconhecimento dos objetos e dos outros é difícil. Os pontos de referência se dissolvem e se reorganizam formando uma imagem disforme; não há descanso, não há um espelho que o situe no contorno do seu próprio corpo – pode ser homem, mas também pode ser mulher, jovem, adulto, criança ou, apenas, o resto de algo que, ao tentar se constituir, fracassou. Fratura que o deixou fora de si, de uma história compartilhável, da cidade, do trabalho e do amor.
Como apresentar um processo de investigação e trabalho analítico, com sujeitos psicóticos em instituição psiquiátrica, sem recorrer à construção imagética que localize meu leitor na trajetória de uma escuta psicanalítica que aposta na suposição de um sujeito na psicose?
Publicar um trabalho, que já foi escrito sete anos atrás, no momento de um Mestrado e que viabilizou a elaboração de uma investigação clínica, que já trazia uma história de outros sete anos, é um exercício de reorganizar uma pesquisa. O que apresento ao leitor nesse livro é o resultado de uma dissertação de mestrado defendida em 2002. De lá para cá, o trabalho de investigação clínica e de pesquisa se aprofundaram.
A clínica das psicoses movimenta uma escuta analítica delicada e atenta ao manejo transferencial. A direção do tratamento precisa ser inscrita na construção do sujeito e de nomeação de sua obra, assinar em nome-próprio. As dimensões do Outro, do Desejo e do Gozo precisam ser alinhavados, tecidos e localizados para que o sujeito na psicose encontre seu lugar.
Atualmente, pode-se questionar sobre o que impede a inscrição em nome-próprio e a introdução do sujeito psicótico na ordem fálica. Qual a porção demoníaca dos delírios paranóicos de cunho persecutório que em seu desfecho podem situar o sujeito, em termos de filiação, no Nome-do-Pai? O que há de odioso na loucura?
Compreendo as limitações e possibilidades da escuta de sujeitos institucionalizados, mais pelo instituído da instituição - sem esquecer da invasão medicamentosa e da aliança mecânica da máquina de prescrição de receitas - do que da demanda do sujeito.
Há uma lógica para o delírio? E se houver, no que o ódio participa em sua vertente paranóica? Por que deus e/ou o diabo são convocados a encarnar seus personagens no imaginário da construção delirante de cunho persecutório?
Pretendo problematizar essas perguntas na pesquisa de doutoramento que agora inicio. Por enquanto, o leitor ficará com uma parte do percurso que me fez chegar a essas questões.
É um convite honesto para pensar sobre o funcionamento de uma instituição psiquiátrica, como também, seu atravessamento na instalação de uma escuta psicanalítica que, em si, já é uma oferta que cria uma demanda e, assim, configura qual o lugar e a função do psicanalista na instituição. Na psicose, a demanda está fundada na colagem ao Outro. É uma demanda desesperada por localizar o gozo e o desejo do Outro. É um apelo para não sucumbir à deriva de ser refém de um gozo TODO.
O diálogo entre Psicanálise e Saúde Mental, superficialmente, pode ser paradoxal em termos epistemológicos, mas pode ser uma aposta possível, desde que o psicanalista preserve sua ética, sua douta ignorância.

Adriana Cajado Costa
31 de Janeiro de 2009.