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domingo, 9 de agosto de 2009

EM NOME DO PAI: “QUE QUERES?”


Curioso e enigmático isso que recebemos de herança daqueles que reconhecemos como nossos pais. Sentimento de pertença, território, vínculo, promessa, segurança, cobrança, metas, realizações, respostas, potência, sucesso, superação, realização... demanda incessante de amor e reconhecimento. Somos atravessados por uma interrogação que não cessa de nos questionar sobre quem somos e o que queremos. Se estão vivos ou mortos, não interessa, pois, de qualquer forma, materialmente presentes ou não, eles nos atravessam e como que de dentro de nós nos perguntam: Que queres? E ficamos tentando responder, mas por que temos que responder? Por que temos que ter uma resposta?
O tempo vai formulando uma resposta em forma de ficção, de uma história cheia de lágrimas e risos, ternura e vingança, dor e prazer... Com o passar do tempo vestimos outra roupagem, nossos sapatos ganham novos contornos, nossos olhos outros brilhos, o sorriso ingênuo e triste se mescla com a malícia. Que me importa agora responder àquela pergunta? A vida e minhas escolhas mostrarão (ou monstrarão) a resposta pela trajetória e o itinerário percorrido.
O tempo passado queria dar uma resposta, mas o tempo presente quer apenas viver e transmitir algo para o futuro. Simples assim, “que queres?”, se Édipo está sepultado, a resposta pode ser aberta, múltipla, singular, se Édipo persiste a resposta está presa ao enigma, presa ao desejo do Outro, ou seja, quero ser em conformidade ao seu Desejo, quero superá-lo, quero lhe dar uma resposta, para, quem sabe, você deseje atender às demandas que lhe dirijo.
Liberdade é conquista de uma travessia. “Que queres?”. Sou em conformidade ao seu desejo era a resposta do passado; O que quero? Resposta em forma de questão que ao mesmo tempo que se interroga, interroga ao Outro no presente, pois ao ter sido atravessado por sua herança, que lhe deu um lugar e um nome, precisa saber o que do Outro nele perdura, o que do Outro lhe faz estranho nele. Névoa fantasiosa que ao construir seu mito o coloca diante de um sono no qual tudo está nublado. A travessia se completa ao despertar do sono capturado pelo o que o Outro quer. Futuro... esse é com o Desejo do sujeito... e está aberto...

domingo, 2 de agosto de 2009

A DANÇA, A DOR E A PSICOSE


“Dançarei apenas porque isso me possibilita expressar minha personalidade. Quero ser uma personalidade para cumprir minha missão. Minha missão é a missão de Deus. Minha loucura é o meu amor pela humanidade. Não quero a morte dos sentidos. Sou aquele que morre quando não é amado ”.(Vaslav Nijinsky).

Gênio da dança e ao mesmo tempo um sujeito psicótico, Nijinsky mostra uma outra forma de habitar o próprio corpo. Como uma de nossas fontes de sofrimento, este bailarino propõe várias personagens para habitar seu corpo. Narciso e o Fauno foram alguns que puderam manter o corpo de Nijinsky unificado e embalado pela dança, seu meio de dar sentido às suas experiências. O delírio cumprirá, posteriormente, o papel da dança para Nijinsky, mas em outros sujeitos, a impossibilidade de simbolizar o sofrimento ou pela via da dança ou pela via do delírio faz esse corpo padecer de dor, uma dor física incurável.