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sexta-feira, 18 de junho de 2010

As Intermitências de Saramago


Saramago morreu?
Certamente o homem José faleceu junto dos seus de maneira tranquila e digna podendo se despedir daqueles que ama.
Já, Saramago, imortal em sua escrita, em suas idéias e reflexões tornou-se encantado, como publicou Alexandre Corrêa em seu blog.
Sua escrita encantadora que faz o leitor participar vivamente das angústias, reflexões, dúvidas, desejos e suspiros é marca viva da imortalidade de sua literatura.
Como não se inquietar com "Ensaio sobre a cegueira" em que uma cegueira branca como leite enclausura a todos e faz surgir todo o mal. "Ensaio sobre a lucidez" nos convoca a pensar nossas escolhas e a escolha de não escolher, por meio de uma eleição na qual votos em branco ultrapassam os limites aceitáveis da política e da legitimidade da representação pelo voto.
Já em "Intermitências da Morte" Saramago discute a morte. Uma cidade é acometida pela impossibilidade de seus cidadãos morrerem. O caos se instala. Doentes sofrem sem poder pensar no fim. Velhos chegam a exaustão. O desemprego atinge patamares insustentáveis, pois todo o sistema de funerárias, fundos de aposentadoria e o prórprio Estado chega ao colapso. Muitos descobrem que a impossibilidade de morrer só acomete o terrítório local, nas cidades vizinhas a morte é possível. Surge então um tráfico de velhos e doentes em busca de ultrapassar os limites da cidade para encontrar a morte. Um limite desejável e imprescindível para a vida ser possível.
O que falar do "Evangelho segundo Jesus Cristo"? Sem palavras!
Sem palavras diante da morte de uma escritor como Saramago.
Diante de um escritor que fornece palavras e cenas para a importante tarefa de pensar. Vejamos o que foi publicado hoje, dia de sua morte, em um de seus blogs - http://caderno.josesaramago.org/:

Junho 18, 2010 por Fundação José Saramago

Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma".

A morte de Saramago chega em sua hora, aos 87 anos, sua obra recebe seu ponto final. Obra capaz de nomear o indizível e que permite pensar seus limites pois "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos" (Saramago; Ensaio sobre a Cegueira)

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